Bem longe, o mar parecia calmo,
transmitindo leveza e translucidez.
As ondas vinham intensas, fortes e, ao
se encontrar com um amontoado de rochas, diminuía, como criança ao levar sermão
da mãe...
E assim, na mesma velocidade com que
vinham, elas quebravam, demonstrando total vulnerabilidade.
Assim ela observava a paisagem natural:
Ora calma como o mar,
Ora alvoroçada como as ondas.
E pensava na vida...
Lembrava-se das coisas.
Esquecia o desnecessário.
E guardava o essencial.
Como aquela cena.
Debruçou-se sobre uma grade
que delimitava a sua frente e apreciou o contemplativo.
Nunca antes fora tão feliz como nesse
instante!
Nem quando foi aprovada no vestibular.
Nem quando se formou.
Ou estabeleceu-se financeiramente.
Ou até quando foi ao show de rock que
tanto sonhava!
Não.
Nada disso se compara ao momento que
estava tendo agora.
Mesmo sem diploma, deu-se a liberdade
de filosofar um pouco.
E concluiu depois de algum tempo:
"A beleza da vida está naquilo que
não podemos ter!"
Como os pássaros fazendo suas migrações
de tempos em tempos.
Como a chuva que cai diariamente
transmitindo a sensação de alma lavada.
E até como observar cada paisagem
enquadrada que temos a oportunidade de ver.
Quem sou eu?
Ela questionou-se de repente.
Atrevo-me a filosofar sobre os segredos
do mundo quando na verdade eu não sei nem quem sou eu?
Por um instante sorriu de si mesma e
lembrou que, apesar de sermos seres superdotados e atrevidos, não sabemos tudo!
Existem perguntas que simplesmente não
conseguimos responder.
Então, aliviada de tal peso, desceu até
a areia e continuou sua caminhada, livre de toda e qualquer preocupação,
deixando pegadas por onde passava.
Então percebeu que a cada passo que
dava, o outro era apagado pelo mar.
Sorriu mais uma vez,
E comparou aquilo com sua vida.
Você CAMINHA.
Você VIVE.
CONHECE pessoas.
DESPEDE-SE de pessoas.
Você se sente apegada a muitas delas e,
quando pensa ser pra sempre, vem o mar e apaga suas pegadas.
Fazendo-as sumir de suas vidas, mesmo
que esse não seja o seu desejo.
O tempo PASSA.
O tempo ANDA.
E tudo não passa de um simplório
processo de transição que pode ser resumido em:
VEM e VAI.
A vida é assim.
As coisas vem e, sem chances para
tentar um desapego, elas vão.
Você pode não aceitar.
SIM!
VOCÊ PODE NÃO ACEITAR!
Agora você não tem o direito de proibir
pessoa alguma de ser feliz.
De ser livre.
De ser viva!
E deixa-a ir.
E vai.
E vem.
E você tem que criar novas pegadas na
areia...
Por tempo suficiente para o mar
apagá-la mais uma vez.
Surgem pegadas.
Somem pegadas.
A pessoa? A pegada.
E você? Apegada.
Como num papel de ator hollywoodiano
sem script.
Não sabe o momento exato que ela vai
partir.
Do mesmo modo que você não sabe quando
deve seguir.
Em frente.
É assim.
Para sempre.
"A pessoa? A pegada.
ResponderExcluirE você? Apegada."
(Adoro essas coisas)
Nossa, me identifiquei tanto com essa filosofia do seu poema, vi a cena da pessoa caminhando pela praia, parando, olhando um lugar calmo, sei lá... Os pensamentos sobre tudo, eu faço tanto isso o tempo todo. Fiquei meio boba lendo...rs
Lindo Amanda, lindo demais!
Ai Aline, assim tu me deixa sem graça! Mas é bom sabe? Saber que existem pessoas como eu, no bom sentido. As vezes (quase sempre) eu faço isso: paro tudo o que estou fazendo, pego o fone de ouvido e começo a pensar nas coisas, na vida, em tudo. É muito bom! E na maioria das vezes sabe o que faço? Tomo nota de tudinho. Graças ao bloco de notas do meu celular, esses rabiscos viram posts aqui no rascunho!
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