Quarto da saudade

" - Por que nós crescemos?
- Pra caber toda a saudade que sentimos...
- Sério?
- Sim. E mesmo assim não é suficiente..."
SAUDADE.
É imensurável, imutável e incondicional.
Ela chega sem bater à porta.
Não deseja bom dia.
Não pergunta se é bem-vinda.
E sem remorso instala-se em sua casa, decidindo pelo livre arbítrio quando (e se) vai embora.
Você não gosta.
Reluta.
Entristece.
E, enfim, desiste.
Assim, com o passar do tempo, você se adapta.
E ela, vai acostumando à sua presença.
Já se cumprimentam.
Desejam bom dia uma à outra.
Outro dia conversaram durante cinco minutos.
EXCEPCIONAL!
Então fazem o seguinte acordo:
'Nos dias quentes você sai com os amigos enquanto ela diverte-se a seu modo.
Nos dias frios, ficam em casa.'
Tempos passados,
Tranquilidade,
Uma QUIMERA!
De repente, chove.
Lava a alma?
Quem nos dera!
Trás à tona recordações, lembranças, momentos.
Vê-se totalmente vulnerável e, sem perceber, você abraça-se à saudade.
E num sopro de memória, ilude-se imaginando um possível conforto encontrado naquele colo.
Mas ela te acusa.
Te condena.
Te chama de fraco e estúpido.
Pede que a esqueça, mas você já não pode.
Chora, desesperada.
"Como pôde ter feito isso? Depender logo dela? Como?"
E ela, seu maior algoz, compadece de tal sofrimento e te entende.
É ela quem te conforta.
E, como num ato heróico, te protege dela mesma.
Assim, elas convivem entre si.
Uma relação demasiado harmônica, mas sem jamais estar em equilíbrio.
Cansada, a saudade vai embora.
Sem dar bom dia.
Sem cumprimentá-la.
E, principalmente, sem despedir-se.
A garota, chorosa, viu-se perdida e, pior de tudo, sozinha.
Encontrou um bilhete no quarto da fujona:
"Não fiques triste, mas precisava partir.
Estar com você não é suficiente para mim.
Não me verás, mas continuarei ao seu lado.
Se você procurar, talvez até me ache! Talvez."