quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Morte e Vida

Meus pés pararam há tempos de decidir que passos dar. Eu entro em qualquer lugar, atravesso qualquer avenida, paro em qualquer sinal. Está vermelho. Não avanço. Sinal verde. Me suicido.

Calma! Um suicídio de cada vez. Primeiro nascer. Afinal, nascemos já com uma sentença de morte estampada no rosto. "Morra", é o que diz qualquer ato momentaneamente mais perigoso que o normal. E você insiste "NÃO POSSO".

Segundo suicídio. Você se assusta: está crescendo. Mas não é a ordem natural das coisas? E quem disse que somos naturais? Bem, eu não sou.

Você cresce, se apaixona, vive a paixão e, quando acaba parece que nunca esteve ali. Outro suicídio. Não admite o pertencimento por outro. Acaba, termina, rompe. Mais tarde, outra paixão. Prevejo mais mortes... Um professor me disse certa vez que o melhor (e maior) amor é sempre o último. Aguardemos...

Por fim, o derradeiro. O último suicídio. Você morre. Mas antes, pensa em todos os suicídios que cometeu: sonhos que não concretizou, amores que não viveu, viagens que não fez, coca-colas que não tomou... Tudo! Você para. Pensa. Se deixa ir. Se arrepende. Como deixar quem ficou?

Mas céus, que egoísmo repentino é esse?

Então entende. Egoísmo em terceira pessoa. Egoísmo por ele. Egoísmo por ela. Egoísmo por quem fica. Egoísmos... Chega! Deixe-se viver. Inclusive na morte. Viva!

E finalmente a sensação mais esperada: não-pertencimento. Uma vida baseada em suicídios incômodos, indesejados, para, no fim entender: era isso o que você tanto precisava!

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